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    Cerca de 8% da população brasileira mora em favelas, diz Instituto Locomotiva

    São 17,1 milhões de pessoas, grupo que, somado, representaria o quarto estado mais populoso do país

    Vista aérea da favela Alba, na zona Sul da cidade de São Paulo
    Vista aérea da favela Alba, na zona Sul da cidade de São Paulo Foto: Divulgação/Governo de SP

    Stéfano Sallesda CNN

    no Rio de Janeiro

    Cerca de 17,1 milhões de pessoas vivem nas favelas brasileiras. Um grupo que, se somado, seria responsável pelo quarto estado mais populoso do país, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e representa 8% da população nacional.

    Os dados são produto de uma pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com o Data Favela e a Centra Única das Favelas (Cufa), e ilustram a realidade de uma população que, nesta quinta-feira (4), celebra o Dia da Favela.

    A data foi escolhida porque, neste dia, em 1900, o termo favela apareceu em um documento oficial, no Rio de Janeiro. Acredita-se, contudo, que ele tenha sido cunhado no fim do século XIX, na onde havia o Morro da Favela, cenário da Guerra de Canudos.

    A pesquisa aponta que a favela brasileira é uma condição urbana: 89% desta população está situada em Regiões Metropolitanas. Segundo a pesquisa, nelas, a população negra representa 67%, um patamar bem acima da média nacional, de 55%.

    Pós-doutor em História Comparada, pela UFRJ, e conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), o babalaô Ivanir dos Santos destaca que a data é importante como instrumento de busca de visibilidade, e ressalta o contexto histórico no qual a expressão surgiu, que aponta como discriminatório.

    “O termo aparece pela primeira vez já na República, quando o chefe de polícia da capital (Rio de Janeiro) emite uma ordem de prisão. A Polícia Militar do Rio surgiu um ano antes, em 1899. Um período que marca a instauração do código criminal. É um dia de consciência, tão importante quanto o Dia da Consciência Negra que, aliás, acontece no mesmo mês. E novembro é ainda o mês da República. Tudo isto dá bastante o que pensar”, afirma.

    Presidente da Cufa, Preto Zezé destaca outro dado do levantamento: os moradores de favela movimentam R$ 119,8 bilhões em renda própria por ano. O valor supera a massa de renda de 20 das 27 unidades da federação e é maior que o consumo de vizinhos sul-americanos, como Bolívia, Uruguai e Paraguai. A entidade se organiza para fazer com que a data seja oficializada pelo governo federal.

    “Hoje, já estamos nos calendários de Minas Gerais, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Fortaleza, mas queremos estar no calendário nacional e estamos nos mobilizando nesta direção”, diz.

    “Infelizmente, se não fossem mobilizações como a Cufa, A Voz das Comunidades, o Papo Reto e outros coletivos, as comunidades teriam entrado em convulsão social durante a pandemia. As favelas também produzem riquezas, nossa luta é para mostrar que não temos apenas desgraça”, afirma o ativista.

    Segundo o último Censo, o Rio de Janeiro é a cidade com mais gente vivendo em comunidades deste tipo: 1,39 milhão de pessoas, seguido por São Paulo, com 1,28 milhão.

    A capital fluminense abriga ainda a favela mais populosa do Brasil: a Rocinha, na Zona Sul. De acordo com o Censo, a comunidade abriga pelo menos 70 mil habitantes e é mais populosa que 90% dos municípios brasileiros, de acordo com o IBGE.

    No entanto, embora esse seja um tema mais associado à rotina das grandes cidades, a maior concentração de moradores em comunidades está no Nordeste e, principalmente, no Norte do país. Em Belém, mais 54,48% da população vive em habitações deste perfil, a maior proporção entre as capitais. No Rio, a concentração é de 22,16%.

    Santos entende que a data é importante para despertar visibilidade e ampliar a sensibilidade social para os problemas das comunidades.

    “A visibilidade é importante para a formação de políticas públicas. As favelas sofrem com o desemprego, as condições de habitação, as problemáticas de acesso à água e saneamento básico. A fome é muito presente, problemas que existiam antes da pandemia e se agravaram com ela. O fundamental é que as pessoas que moram em favelas sejam consideradas cidadãs, o que não acontece”, conclui o pesquisador.

    Nesta quinta-feira, a Cufa e coletivos promovem extensa programação cultural e de serviços por todo o país. No plano musical, a homenagem é à vida e obra do sambista Arlindo Cruz.